Criou-se um rótulo na vida profissional que para ser bem-sucedido você precisa seguir o padrão da Miranda Priestly (do filme O Diabo Veste Prada), já vi em muitos filmes pessoas exercendo a função de liderança em empresas seguindo o modelo rígido, inquebrável e inabalável, como se fossem feitos de pedra. 

Não deixa de ser um bom profissional aquele que consegue separar bem as emoções do contexto pessoal, de fato admiro muito aqueles que parecem pouco se abalar com os impactos do meio, os baques das notícias ruins, os que conseguem ver cada situação com aquele toque de racionalidade inabalável.  

Por muito tempo nas empresas ouvimos os jargões: “deixe seus problemas lá fora” ou “ao entrar, abaixe sua cabeça e trabalhe, esqueça o mundo, foque no seu resultado!”, “não misture as coisas”. Esses e muitos outros que validam o comportamento e a crença de que, para ser um bom profissional, você precisa ser frio e calculista e focar nos resultados doa a quem doer, ou “prego que mais se destaca é que mais leva pedrada, se acostume!”, “engole o choro”, “chorar demonstra fraqueza!”, “não abaixe sua cabeça, o mundo do trabalho é uma selva feroz pronta pra te devorar!” 

Entendo que para os que vieram de uma geração pós-guerra, em que a maioria dos líderes eram autoritários e alguns até militares, isso pode ter funcionado muito bem, já que a educação seguia um modelo rigoroso, o aluno recebia castigo em casa e na escola, então nos negócios era: manda quem pode e obedece quem tem juízo! Mas e agora? 

Em tempos de revolução tecnológica, em meio à mudança brusca e forçada no mundo causado por uma pandemia ainda pouco conhecida e descontrolada, é possível seguir esse mesmo padrão? Cabe nesse momento um modelo de liderança alicerçado nessa base? 

Eu sei e percebo que as empresas vêm tentando muito se desvincular desses comportamentos, desse modelo de gestão, mas preste atenção no seu dia a dia, no quanto a missão da empresa e seus valores são praticados com você ou ao seu lado. Quantas e quais dessas frases acima que se repetem por pessoas que estão em cargos de liderança? O quanto essas frases estão impregnadas em comportamentos e crenças que limitam pessoas que pensam e agem diferente, que acham que o meio mais adequado de ser líder é controlar o comportamento do outro? 

Pandemia, home office, uso de máscara, isolamento social, venda desenfreada pela internet, baixa na poluição. Quem diria que você presenciaria tudo isso em apenas um ano na sua vida? Pois é, esse modelo de vida que vem fazendo de nós, seres que, mais do que nunca, precisam se adaptar para conseguir viver a realidade, quanto mais sólidos, mais rígidos, mais sofrimento para chegar ao seu fluxo. E para ser líder nos tempos de hoje, é importante refletir o quanto ser líquido e forte ao mesmo tempo pode ser mais funcional e proporcionar menor sofrimento. 

Líquido, como disse Bruce Lee, se adapta ao jarro, suas partículas se moldam ao meio, quanto mais puros, mais fácil se adaptar. Quanto mais água, mais força para chegar ao destino, quanto mais leveza, menor sofrimento para adaptação. 

É importante que cada um traga dentro de si todos os ensinamentos que suas experiências e estudos proporcionaram, mas cada realidade vai exigir uma nova postura, talvez em uma empresa, para ser líder, seja necessário aderir à essência de laranja e, no momento de partir para outra, é importante passar pelo processo de purificação, porque talvez precise ser a essência de uva para servir às necessidades daquele contexto. 

Quando for buscar líderes para sua empresa, leve em consideração todas as suas histórias, trajetória, conhecimentos e habilidades, mas ajude para que se torne água porque o mercado está mudando em uma velocidade que não está mais dando tempo de 20 anos para se adaptar. Tudo chega hoje e era para ontem. 

Treine seus líderes para serem líquidos, para ajudar a sua equipe a usar o melhor do potencial para seguir o rumo do seu negócio, para seguir o fluxo com fluidez. Talvez em algum momento você precise orientar e fazer a barragem para segurar o fluxo da água, às vezes vai precisar abrir caminho para ela poder fluir com mais força e, aqueles que se juntarem a você, poderão chegar ao mar, aos que não conseguirem, que se limitem a serem lagos, córregos e tudo bem! Muitos precisam até mesmo de poças para sobreviver, mas não permita que construam uma muralha na sua empresa para barrar o crescimento das pessoas, nem pontes que possam levá-las para outro curso.  

Nesse momento de pandemia, ajude seus líderes a serem como a água! 

 

Sobre o Autor:

 

 

”Fernanda Fernanda Marques é coordenadora de gestão de pessoas, coach de líderes e conselheira de stakeholders internos. Também é professora, atriz, cantora e mãe de pet.

Instagram: @fernanda.marquesrh

 

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