No começo de 2020, por conta da pandemia, a maioria das pessoas foi forçada a aderir ao modelo de trabalho remoto. Conforme as restrições foram se flexibilizando, algumas empresas exigiram o retorno definitivo ao escritório enquanto várias outras determinaram o trabalho híbrido – um período de home office, outro período presencial.   

Até então, o modelo híbrido parecia unir “o melhor dos dois mundos”: o conforto do remoto com a socialização do presencial. Inicialmente, essa promessa pareceu ser real.  

Até que deixou de ser.  

Trabalho híbrido: o melhor ou o pior de dois mundos?  

Nos últimos meses, empresas como Airbnb, Spotify e Lyft aderiram ao modelo totalmente remoto. Em junho de 2022, o CEO da Yulp – empresa estadunidense de tecnologia –, Jeremy Stoppelman, determinou o fechamento da maioria dos escritórios da empresa. Em entrevista à BBC[¹], ele se referiu ao trabalho híbrido como “o pior de dois mundos” e o apelidou de “inferno”.   

Apesar de nem todas serem tão radicais, muitas instituições estão desistindo do trabalho híbrido e voltando ao remoto ou ao presencial de forma definitiva. O que acontece é que, inicialmente, ninguém imaginava que trabalhar de duas formas diferentes poderia ser tão exaustivo, principalmente para os funcionários.  

Conforme os riscos da pandemia foram diminuindo, as pessoas estavam animadas para voltarem ao escritório e terem a oportunidade de retomar o contato com os colegas – por conta disso, o trabalho híbrido parecia uma excelente ideia.  

Com o passar do tempo, porém, essa animação deu lugar à ansiedade de não ter uma rotina fixa. Como muitas instituições determinaram um esquema de 3-2 (3 dias em casa, 2 dias no escritório ou o contrário), os trabalhadores mudavam o cenário diariamente – e, com isso, não se acostumavam totalmente com nenhum dos dois.  

Na segunda-feira, acordavam bem cedo, colocavam o notebook na mochila, pegavam carregador, mouse, fone de ouvido, preparavam marmita, pegavam o carro ou o transporte público e iam até o trabalho. Depois, precisavam levar tudo de volta, tirar da mochila e organizar o home office para trabalhar na terça-feira, quando acordavam um pouco mais tarde.  

Também em entrevista à BBC[²], a psicóloga Elora Voyles afirmou que “uma rotina consistente e previsível pode ajudar as pessoas a lidar com o sentimento de estresse e ansiedade, especialmente durante a pandemia. O híbrido, porém, requer uma mudança frequente dos hábitos diários […], então é difícil encontrar uma rotina quando sua agenda é sempre entrar-e-sair do escritório.”  

Uma pesquisa da Tinypulse[³] em relação a 2021 revela exatamente isso. Os dados mostram que 72% dos colaboradores no modelo híbrido se sentem exaustos, enquanto essa taxa cai para 37% entre aqueles atuando de forma remota.  

Então o trabalho híbrido não funciona?  

É muito cedo para afirmar o que funciona ou não – as pessoas ainda não tiveram tanto tempo para adaptar-se a esse modelo, e as pesquisas na área ainda são iniciais.   

No entanto, fica muito claro que, geralmente, os líderes decidiram sem considerar o melhor para seus funcionários ou não escutam os feedbacks dados por eles. No último artigo, falamos sobre uma carta feita pelos funcionários da Apple contra a decisão de retorno ao escritório presencialmente – e, mesmo assim, a empresa não voltou atrás.  

Além disso, nem sempre os colaboradores irão entrar em consenso – cada pessoa tem suas particularidades. Uma pesquisa da McKinsey revelou que trabalhadores entre 18-29 anos são os mais interessados no trabalho híbrido. Isso porque muitos deles, por serem novos, passaram parte considerável de sua carreira sendo obrigados a trabalhar de casa.  

Os mais jovens também estão no estágio inicial de sua vida profissional, portanto é um período de descobertas, em que eles buscam formar sua identidade e explorar suas opções. [⁴]  

O ideal é, portanto, chegar a uma decisão que considere as necessidades da empresa assim como a preferência da equipe. 

Como escolher o melhor formato?  

É difícil definir o melhor formato para a empresa quando existem tantas variáveis envolvidas no processo. Separei aqui algumas dicas que podem ajudar nessa decisão, mas é importante ressaltar que nada é imutável. Se você optar por um dos modelos para sua empresa e ele não funcionar, você sempre pode conversar e testar uma nova opção!  

#1 Feedback  

Converse com seus funcionários e escute verdadeiramente o que eles têm a dizer. E não pergunte apenas “o que você prefere?”, mas entenda quais as necessidades daquela pessoa, qual forma de comunicação ela se sente mais confortável, quais os prós e contras ela enxerga em cada uma das modalidades.  

Sabemos que o formato “comando-controle” já não funciona mais. Os colaboradores querem e precisam ser ouvidos – se eles estiverem satisfeitos, a empresa só tem a ganhar.  

#2 Entenda a necessidade de cada equipe  

Cada empresa, de acordo com seu segmento, possui diferentes necessidades – e, para cada uma delas, existe uma equipe diferente.   

Em alguns casos, temos equipes que lidam diretamente com cliente – como vendedores, prestadores de serviço, consultores. Com elas, é mais difícil optar pelo modelo 100% remoto, por exemplo, então o híbrido ou o presencial talvez sejam a melhor opção. Outras equipes, porém, não têm essa necessidade.  

Portanto, entenda o que cada departamento precisa e qual é a necessidade da empresa de forma geral. Assim, fica mais fácil decidir.  

#3 Planejamento e estrutura são chave  

Após entender a necessidade da empresa e do funcionário, é importante partir para um planejamento detalhado e estruturado dos próximos passos. Se possível, é interessante contar com a ajuda do departamento de RH, um coaching ou consultoria.  

O planejamento é essencial para que o trabalho flua da melhor maneira possível e para evitar atritos entre a gestão e os funcionários, ou até mesmo dos funcionários entre si.  

Exemplos de perguntas que você deve tentar responder no seu plano:  

  • A equipe terá algum benefício extra, como vale-transporte ou auxílio home office? Se sim, é fundamental definir como isso será distribuído, especialmente se as equipes estarão em diferentes modalidades, para que ninguém se sinta prejudicado.  
  • Com que frequência teremos feedbacks para medir a satisfação e produtividade das pessoas?  
  • Como será a transição entre o modelo de trabalho antigo e o novo?  
  • No caso do híbrido, quantas vezes por semana ou mês o funcionário deverá estar no escritório?  

#4 Procure opções alternativas  

Caso a empresa deseje dar prioridade para o trabalho remoto, isso não significa que ela precisa abolir totalmente os encontros presenciais.  

Aqui na Move42, eventualmente me reúno com a equipe em algum espaço de coworking – isso ajuda a equipe a desenvolver uma relação mais profunda, assim como possibilita o networking.  

Caso opte pelo presencial, você pode determinar que seus colaboradores possam escolher alguns dias do ano para trabalharem de casa. 

 

 

Referências 

[¹] The companies doubling down on remote work 

[²] Why hybrid work is emotionally exhausting 

[³] State of Employee Engagement Q3 2021 

[⁴] Why younger workers want hybrid work most 

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