Durante anos, o mundo corporativo foi marcado por frases como “você precisa vestir a camisa da empresa” ou “você precisa acreditar no nosso propósito”. Sempre foi composto também pela crença de que quanto mais horas extras, melhor – mesmo sem a devida remuneração -, de que o trabalho deveria vir antes da vida pessoal e de que é normal ter altos níveis de estresse por conta dele. 

Mas nos últimos meses, vimos crescer um movimento que vai na contramão de tudo isso: o quiet quitting, ou demissão silenciosa em português, que se popularizou principalmente no TikTok, entre a geração Z e alguns millenials.   

Afinal, o que é quiet quitting? 

Apesar do nome, esse termo nada tem a ver com pedir demissão. Na verdade, ele está relacionado a pedir demissão da ideia de que o trabalho deve ser um propósito pelo qual alguém deve dedicar toda sua energia. 

De acordo com Lindsay Ellis, do Wall Street Journal¹, “Essas pessoas estão rejeitando a ideia de ir além por suas carreiras e estão denominando essa queda de entusiasmo como uma forma de demissão, como uma espécie de reação ao que profissionais anteriores teriam chamado de ‘cultura da agitação’, essa atitude de estar sempre subindo a escada da carreira.” 

Ou seja, de forma geral, a demissão silenciosa refere-se à atitude de definir melhor o equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal, ainda cumprindo com suas obrigações pré-estabelecidas, mas sem dedicar-se a mais do que o necessário, especialmente quando em condições tóxicas ou abusivas. 

Ao Business Insider², o gerente de uma empresa de consultorias explicou que “a ideia do ‘quiet quitting’ é menos sobre ser preguiçoso e mais sobre evitar um burnout no trabalho. Toda a ideia de pegar mais leve no trabalho é sobre aprender a dizer ‘sim’ para tudo, e dizer ‘não’ quando você precisa de tempo para si.” 

Como surge a “demissão silenciosa”? 

O termo ganhou notoriedade nas redes sociais, especialmente no TikTok – uma das principais redes sociais do momento. Segundo o The Guardian³, foi inspirado por uma hashtag chinesa, que teria sido censurada, mas possuía um significado bem-parecido. 

Independentemente de quem cunhou o termo, o movimento explodiu no TikTok nos últimos meses, onde os vídeos sobre o tema somam milhões de visualizações. As pesquisas no Google sobre o tema também cresceram exponencialmente e atingiram seu pico agora em setembro, como podemos ver no relatório do próprio Google Trends sobre o tema. 

Pesquisas sobre o termo “quiet quitting” no Brasil em 2022.
Imagem: Pesquisas sobre o termo “quiet quitting” no Brasil em 2022. Fonte: Google Trends.

 

Pesquisadores e jornalistas têm afirmado que essa tendência surgiu impulsionada a pandemia, afinal foi nesse período que muitas pessoas da nova geração começaram sua carreira: uma época que tornou particularmente mais difícil definir barreiras claras entre trabalho e vida pessoal, e ajudou a criar um cenário de aumento de casos de burnout. 

Ellis, quando perguntada sobre a popularidade desse fenômeno entre a geração Z, afirmou que “eles tiveram pouquíssima experiência de trabalho fora da pandemia. A COVID, para muitos profissionais e empregados, quebrou totalmente as barreiras entre trabalho e vida. E algumas pessoas basicamente disseram que elas estão tentando reconstruir essas barreiras.” 

Além disso, ela também atribui a popularidade ao fato de que esse público está fortemente presente no TikTok: “o algoritmo, quando percebe que alguém viu um vídeo sobre quiet quitting, pode entregar mais e mais, o que permite às pessoas verem que outras podem estar se sentindo da mesma maneira que elas e sentir que é uma experiência compartilhada.” 

E na vida real? 

Quando a gente vê algo viralizar nas redes sociais, é comum pensarmos que, talvez, aquilo não terá qualquer tipo de impacto na “vida real”. Nesse caso, entretanto, não foi bem assim. O quiet quitting é a representação daquilo que as próprias pesquisas já estão indicando: uma queda no engajamento do profissional com a empresa. 

Um estudo global realizado pela Gallup[5] e publicado este ano, revelou que, após quase uma década de crescimento e bem-estar, os números se estagnaram após a pandemia. A taxa de engajamento no trabalho ficou na faixa dos 21% e a de bem-estar, na casa dos 33%.  

O relatório também indicou que 44% dos trabalhadores se sentem estressados no trabalho, o maior número já registrado – e que supera em 1% o recorde anterior, que pertencia ao ano de 2020. Considerando apenas os dados da América Latina, a taxa de engajamento foi de 23%. Com relação às emoções, uma quantidade expressiva se sente preocupado (53%) e estressado (50%) no trabalho. 

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Taxa de engajamento e bem-estar entre os trabalhadores. Fonte: Gallup, 2022.

 

O que tudo isso significa? 

Movimentos como esse e como a Grande Resignação, demonstram um padrão: as pessoas, especialmente as mais jovens, estão mudando a sua relação com o trabalho. Em especial, percebemos que elas não estão mais dispostas a aceitar líderes, culturas e condições de trabalho abusivas ou tóxicas.

Esse é o grande desafio dos líderes, na prática: refletir sobre como sua empresa está tratando os funcionários, e se ela pratica o tipo de liderança que afasta as pessoas da instituição.  

É claro que o equilíbrio e a priorização da saúde mental são valores fundamentais, e um direito de todo profissional, mas é importante que eles pelo menos tenham uma relação positiva com empresa e o trabalho que estão realizando, mesmo que não seja um sentimento de propósito de vida. 

Como a liderança da sua empresa se posiciona nesse cenário? E como se preparar para essa mudança de comportamento vinda da nova geração de trabalhadores? 

A Move42 pode ajudar sua empresa com isso. Agende uma reunião gratuita conosco e saiba mais sobre a liderança ágil. 

 

[1]How ‘Quiet Quitting’ Is Changing the Workplace – The Wall Street Journal Podcast 

[2]‘Dream jobs are DEAD’: Quiet quitting is the TikTok trend encouraging employees to take it easy at work – Insider 

[3]Quiet quitting: why doing the bare minimum at work has gone global – The Guardian 

[4]Quiet Quitting – Google Trends 

[5]State of the Global Workplace: 2022 Report – Gallup 

 

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