Não importa a sua idade, eu posso apostar que você deve ter alguma boa lembrança de quando você se reuniu com seus amigos e jogou algo, uma brincadeira de rua, ao redor de um tabuleiro, com cartas, ou algo assim. E sabe por que você se lembra disso? Porque possivelmente foi um momento feliz, de descontração e, se você seguiu as regras, com certeza se divertiu muito durante o processo e aprendeu algo. 

Tracemos agora um paralelo ao mundo corporativo: seria possível criar um processo de trabalho com regras e objetivos bem definidos, que incentive o trabalho em equipe, engajamento dos indivíduos, promova a entrega de resultados e a superação de limites de forma criativa, competitiva e divertida? Ideia inovadora não? Esse é exatamente o conceito de Gamificação ou Gamification que foi cunhado em março de 2004 por Nick Pelling. 

Jogos online, de tabuleiro ou de cartas. Não importa o formato, a verdade é que a maioria das pessoas adora jogar um bom jogo, seja de estratégia, ação, corrida, baralho, dados ou até mesmo “sorte”. Só para termos um parâmetro, de acordo com a pesquisa The State Of Online Gaming de 2018, as pessoas tendiam a passar cerca de 6 horas por semana jogando videogames e/ou jogos online. 

E quantas vezes você já não passou horas e horas tentando passar na mesma fase? Ou precisou tomar uma decisão inteligente para otimizar seus resultados e chegar mais perto da vitória? Ou até mesmo combinou uma estratégia com sua dupla ou grupo no jogo para ganhar vantagem? 

Isso porque, além do entretenimento e diversão, os jogos também envolvem características como foco, pensamento estratégico, trabalho em grupo, concentração e dedicação. E é justamente por isso que existe a “gamificação” dentro das empresas! Vamos entender um pouquinho mais sobre essa ferramenta? 

O que é a gamificação e onde é aplicada? 

A gamificação consiste em, basicamente, usar as características de jogos e aplicá-las em outros contextos, como workshops, para alcançar determinados resultados – um maior nível de engajamento, por exemplo. 

Além de ser utilizada de forma interna em empresas, essa técnica também é muito aplicada com os consumidores finais e na área da educação – como o Kahoot, que é uma plataforma de perguntas e respostas que alguns professores usam para deixar as aulas mais dinâmicas e atrativas. 

Quando realizada de forma interna na empresa, com uma determinada equipe ou com todos os colaboradores, o objetivo principal é usar aquelas características que mencionamos anteriormente (foco, pensamento estratégico, trabalho em grupo, concentração e dedicação) como forma de estimular comportamentos, aprender novas metodologias e melhorar o desempenho. 

Aqui na Move42 usamos a gamificação em praticamente todos os nossos workshops. No workshop de Scrum, por exemplo, nos inspiramos em um famoso jogo de corridas, na qual os colaboradores se dividem em time e precisam construir sua própria pista e… Se obtiverem sucesso no desenvolvimento do projeto, ao final irão competir entre si de uma forma muito divertida! 

Essa estratégia é usada não apenas para que os colaboradores se dediquem mais ao processo de aprendizado daquela metodologia, mas também para facilitar a compreensão e aplicar os fundamentos do que está sendo ensinado de forma prática. 

E como aplicar isso no dia a dia? 

Se você deseja aplicar a gamificação dentro da sua equipe ou empresa, primeiro é necessário definir alguns pontos. Qual será o objetivo dessa ação? Qual comportamento deseja incentivar ou qual metodologia deseja ensinar? Quantas pessoas estarão envolvidas? E principalmente: deixar as regras claras e definir como o resultado será analisado, afinal, queremos incentivar uma competição saudável e produtiva. 

Com essas perguntas, é possível entender melhor a situação e desenvolver um pequeno planejamento. Apesar da gamificação ter um tom de brincadeira, é preciso levá-la a sério para obter um resultado satisfatório. 

Depois dessa etapa, o mais indicado é contatar uma empresa ou profissional da área, já que são pessoas com especialização e experiência para lhe dar alguns atalhos e dicas. Dessa forma, o resultado provavelmente será mais assertivo, além de que você não precisaria se preocupar com nada, apenas em reunir os profissionais. 

No entanto, caso você ainda não tenha certeza se isso vai funcionar, trouxemos aqui alguns exemplos para ilustrar como isso já ocorreu em outras instituições. 

Gerdau 

A Gerdau é uma grande produtora de aço brasileira e uma das principais fornecedoras do material no mundo. Nesse segmento de atuação, os funcionários precisam de uma certificação obrigatória em Análise Preliminar de Riscos (APR). 

Inicialmente, isso era feito com papel e caneta dentro de uma sala, e levava cerca de 1 hora e meia. Em 2016, a empresa decidiu buscar uma nova solução: usar a gamificação e a realidade virtual. 

Os óculos de realidade virtual são usados para simular o ambiente em que o colaborador precisará atuar. Usando um joystick, ele precisa percorrer o espaço e buscar identificar os riscos ali presentes, tudo isso através de várias fases. Para ser aprovado, é necessário cometer nenhum ou o menor número possível de erros. O resultado é exibido no celular do supervisor responsável. 

Essa dinâmica passou a durar, em média, menos de 20 minutos. Além da economia de tempo, o fato do funcionário poder aplicar seus conhecimentos na prática faz com que o aprendizado seja melhor absorvido, otimizando os resultados da certificação. 

Domino’s 

A Domino’s é uma das maiores redes de pizzaria do mundo, presente em mais de 83 países. Justamente por isso, é difícil manter os colaboradores sempre por dentro das atualizações de seu menu. 

Foi então que eles desenvolveram um minicurso com gamificação com o objetivo de facilitar o processo de aprendizagem das receitas e atualizações de cardápio. O curso envolve pontos, fases e conquistas e facilitou esse processo, além de torná-lo mais interessante para os funcionários. 

Sicredi 

A Sicredi é um sistema de cooperativas de crédito brasileira, com unidades espalhada por todo o país. Eventualmente surgiu a necessidade de implementar uma ferramenta de gerenciamento de contas padrão para todas elas. No entanto, para que isso acontecesse, todos os colaboradores precisariam passar por um treinamento. 

Para isso foi desenvolvido o CRM Play, uma plataforma que unia a gamificação e o storytelling. Lá, os usuários se encontravam dentro de um mundo sem cor, e precisavam ir passando de fase e conquistando objetivos para colori-lo novamente. 

O resultado foi tão positivo que decidiram expandir a plataforma e aplicá-la também em outras áreas, impactando milhares de colaboradores. 

Gamificação na Move42 

Como mencionamos anteriormente, a gamificação também é usada por nós, na Move42, em todos os nossos workshops e treinamentos. Por isso, trouxemos alguns exemplos de como aplicamos essa técnica em nosso dia a dia.

Exemplo de gamificação da Move42

Imagem: Move42 aplicando gamificação durante um Workshop Scrum com a equipe da Energisa, 2019.

Para reter atenção 

Utilizamos um formato de quiz para incentivar a competição entre os participantes e validar o entendimento sobre o conteúdo apresentado. Esta é uma prática aplicada inclusive em algumas de nossas palestras institucionais. 

A ideia é intercalar conteúdo com pequenos questionários, didáticos e divertidos, para que os participantes possam ter uma experiência mais interativa e mantenham-se atentos, pois… A qualquer momento, pode surgir uma informação que irá ajudá-los durante o próximo quiz. 

E é claro: este quiz possui um sistema de pontos e ao final, o ganhador recebe um prêmio 🏆 

Planejamento estratégico com OKRs 

Para esta atividade também criamos um sistema de pontuação, para que, durante a fase de elaboração dos objetivos e resultados-chave possamos selecionar os itens mais relevantes – os pontos são calculados com base na utilização adequada da metodologia, relevância estratégica, ROI (return of investiment) entre outros critérios estratégicos.

Dessa forma, desde o início temos uma triagem e seleção dos itens que trarão maior resultado para a organização.  

Ao executamos nosso trabalho dividindo os grupos em times, criamos também uma competição saudável e incentivamos a troca de experiências, furando a “bolha social/departamental”.  

Workshop Kanban 

Neste workshop em especial o objetivo é criar um ambiente caótico para que as equipes possam se organizar e gerir o famoso WIP (working in progress). Aqui simulamos a abertura de uma praça de alimentação e simulamos um pico de atendimento para que as equipes possam ser testadas e escolham a melhor forma de se auto-organizar e atender aos clientes impacientes e famintos.  

E acredite, em algumas dessas dinâmicas realmente descobrimos grandes chefs.

Pode parecer uma analogia simples, mas em sua empresa, quantos clientes “impacientes e famintos” solicitando mais e mais tarefas não surgem diariamente? 

 

Com esses exemplos, podemos perceber que a gamificação é um recurso importante não apenas para quem vai usá-la – geralmente os colaboradores – mas também para os supervisores, gerentes e proprietários, pois na maioria das vezes os processos se tornam mais práticos, rápidos e escaláveis, além de facilitar a análise das métricas e resultados. 

Para os funcionários, eles se tornam menos maçantes, mais interessantes e de fácil compreensão, além de estimular o desenvolvimento de soft skills muito importantes – como o foco e o trabalho em grupo. 

 

Referências: 

The State Of Online Gaming 

kahoot.com 

Case da Gerdau 

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